7.
Uma maldição parecia ter sido lançada sobre o Douro. O oídio, primeiro; a filoxera, depois; e agora uma ameaça maior e definitiva (a burla, a fraude) que não iria lá com enxofre, sulfuretos de carbono, porta-enxertos americanos a substituir o plantio em pé-franco ou alargamentos da área do benefício. Já se viu (continua Maria Teresa) que Francisco soube tirar proveitos da crise de meados de sessenta. Mas em mil oitocentos e oitenta e sete o negócio de exportação atingia limiares de insustentabilidade. Francisco, doente, quase falido, morria no Brasil, em Santos, no mês de Outubro; o filho mais velho acabava de produzir um dos melhores vinhos do século, nesse Verão de dias quentes e noites frescas que suspendia nas encostas uma luminosidade e uma fina leveza do ar que pareciam já embriagar antes da fermentação do mosto; e, de súbito, num tempo em que a fraude e as imitações do vinho do Porto se generalizam nos principais mercados internacionais e espalham a miséria em todo o perímetro do Vale, as responsabilidades do futuro da família ficam sobre os ombros de José Ribeiro da Conceição. Descapitalizada a empresa, sem recursos financeiros, não seria ainda o tempo de saborear o Queen Victoria’s Jubilee, um vintage como há mais de cinquenta anos não havia memória no Douro.