quinta-feira, maio 21, 2009

[Os países mudam]

Da rua via-se até ao fundo
a oficina
e a parede onde se penduravam as ferramentas
com os desenhos
delas.
As carroçarias dos automóveis
riscavam a sombra
na manhã de outubro
de se altear o brilho dos metais
por ali fora
com sucessivas camadas
de tinta.
E tudo se transformava
em permanência
por via do desembaraço: alavancas motrizes,
bielas, parafusos,
embraiagens. E circulavam
sempre nas ruas
muito azuis ou vermelhos
com a música alta
e sorrisos de quantos
lá cabiam dentro
nos bancos corridos
dos estados unidos
dos anos 
cinquenta. E
nas alamedas
a seiva das árvores procurava ascender
das raízes
aos ramos altos
por entre o rumor e o fumo
da gasolina
incombustível
dos motores
modificados: assim 
o socialismo
ancorava com dificuldade à sua base
os pressupostos
dele.
E as fotografias
dos turistas
repetiam apenas o brilho dos cromados
e as camadas de tinta
dos automóveis
que corriam na cidade
como se a revolução tivesse ainda 
num entroncamento 
com semáforos acesos
uma questão
digamos assim
mal 
resolvida
consigo mesma.